Embora aliados do presidente tentem assegurar que a reforma da Previdência terá o apoio necessário para ser votada na Câmara dos Deputados, o diagnóstico dos debates sobre a proposta nas redes sociais já mostra o impacto das recentes acusações contra o presidente Michel Temer sobre essas interações.
Se antes o governo já estava perdendo a batalha da comunicação, segundo os próprios integrantes da base, desde ontem a expressão “Cassação da chapa Dilma-Temer” passou a ganhar destaque nas postagens relacionadas à reforma da Previdência, segundo levantamento obtido pelo Estadão/Broadcast.
Neste momento de ebulição política, a avaliação do resultado é de que os parlamentares podem se mostrar ainda mais sensíveis aos apelos da população contra as mudanças nas regras de aposentadoria. Por isso, manifestações contrárias em peso como foi verificado representam grande empecilho, apontou o coletivo Casa da Amendoeira, formado por especialistas em comunicação e autor do monitoramento. “O governo tenta aparentar normalidade, mas, mais uma vez, perde a guerra da comunicação virtual”, diz o texto.
O próprio relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), defendeu na noite desta quinta-feira, 18, a paralisação do andamento da proposta. “Certamente, não há espaço para avançarmos com a Reforma da Previdência no Congresso Nacional nessas circunstâncias”, disse em nota. O relator citou o “cenário crítico, de incertezas e forte ameaça da perda das conquistas alcançadas”.Desde o início, “Fora Temer” já era um termo recorrente nas discussões sobre a proposta. Agora, ele ganhou força e começa a ser usado para pedir a renúncia do presidente. A coleta de dados ocorreu entre os dias 1º de janeiro e 17 de maio em nove tipos de mídias sociais. O número de postagens com referências à reforma da Previdência chegou a 830.591, a maior parte delas no Facebook. A estimativa é de que esses comentários alcançaram até 184,9 milhões de pessoas.
“Se a reforma da Previdência já era uma batalha difícil para o governo antes das revelações sobre a delação premiada do empresário Joesley Batista, a aprovação da emenda à Constituição tornou-se missão quase impossível diante da fragilidade do presidente Michel Temer, ameaçado de impeachment. Nas redes sociais, o embate foi perdido pelo governo desde o início”, diz a pesquisa.
O levantamento mostra ainda que a oposição sempre esteve na dianteira sobre a discussão, com diversos nomes despontando como influenciadores nas mídias sociais. Como mostrou o Broadcast em fevereiro deste ano, o governo também faz acompanhamento das redes sociais e detectou que 60% da base aliada estava “calada” sobre a reforma da Previdência. Agora, a tendência é que esses parlamentares, que poderiam defender a proposta, “sumam de vez” do debate.
Hoje, o vice-líder do governo na Câmara deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) destacou que o presidente Michel Temer está “perto” de conseguir os 308 votos necessários à aprovação da medida na Casa. O peemedebista disse ainda que não há risco às propostas.
Assessores da área econômica, no entanto, reconhecem que a investigação terá sim impacto sobre o andamento das propostas. Técnicos tentavam desde ontem traçar cenários para lidar com esses efeitos e já está um curso uma operação para tentar blindar a equipe econômica e evitar uma desorganização ainda maior da economia. Qualquer que seja o desfecho da crise, a percepção na área econômica é de que é preciso sinalizar a continuidade da política econômica.
O trabalho de negociadores da reforma da Previdência está completamente parado desde ontem, quando foi divulgada a acusação contra o presidente Temer. Técnicos admitem que não há condição nenhuma de dar prosseguimento aos debates internos e às tratativas para eventuais mudanças no texto ao plenário. A situação atual é de paralisia. No Senado, técnicos continuaram ainda ontem trabalhando no relatório do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) sobre a reforma trabalhista, mas hoje já foram avisados de que o andamento da proposta está suspenso.
Fonte: O Estado de S.Paulo