Dia do Gráfico - 7 de Fevereiro: com 92 anos e cada vez mais atual

Data da postagem: 4/02/2015

O dia 7 de fevereiro pode até passar despercebido para a maioria do povo brasileiro, pois é considerado como um dia normal. Mas esta data jamais deve ser assim tratada pelo trabalhador gráfico do Brasil. Ainda mais agora, quando a situação da política nacional parece dar sinais de retroceder nos direitos trabalhistas. Contudo, o gráfico pode continuar se perguntando qual a importância do 7 de Fevereiro? E qual a relação da data com as políticas atuais que tentam limitar o direito do trabalhador?

Em princípio, o 7 de Fevereiro remonta o começo da histórica greve da categoria, de 42 dias em São Paulo, no ano de 1923. O movimento paredista foi capaz de garantir direitos antes inexistentes. Os gráficos mostraram ter enorme consciência de classe, liderada por João da Costa Pimenta. E, dispostos a tudo, até comer terra se fosse necessário, eles lutaram contra patrões e o sistema política até estes reconhecerem a representação dos gráficos, a fim de garantir direitos para a categoria.

Nascia então a União dos Trabalhadores Gráficos (UTG) – primeiro sindicato oficialmente reconhecido no Brasil. Com isso, nascia também a primeira experiência de Convenção Coletiva de Trabalho no País, com direitos específicos para os gráficos, aceito pelos empresários, mesmo antes de tais regras serem institucionalizados por meio de leis públicas.

Este é o legado do Dia 7 de Fevereiro para os gráficos, que, através da expressiva unidade, organização e mobilização da classe, garantiu seus direitos, e, sobretudo, a representação enquanto categoria profissional, até então proibidíssima. Só patrões detinham tal direito de se organizar. Logo, fica evidenciado que os gráficos, de forma pioneira, enfrentaram o sistema econômico brasileiro, cujo era representado pelos empresários, que oprimiam os trabalhadores a condições semelhantes à escravidão. Os trabalhadores combateram e venceram também o sistema político, ao instituir direitos, não outorgados por leis específicas dos governos.

Até hoje, os direitos conquistados através da luta dos antigos gráficos se mantém aos trabalhadores da ativa, pois eles se perpetuaram na CLT – Leis da Consolidação do Trabalho, a exemplo da redução de jornada de trabalho, férias remuneradas, entre outros diversos. Enganam-se os atuais empregados ao pensarem que direitos são dados por patrões e/ou governos. Eles são resultados da pressão social dos trabalhadores. E os gráficos se engajaram nesta luta a todo esse tempo.

Eis o significativo legado do 7 de Fevereiro deixado pelos gráficos de 1923 aos novos gráficos que os sucederam e aos que continuam na lida até hoje. É por tudo isso que a data é indispensável de ser ressaltada pela categoria. Este inclusive era o desejo o grande líder João da Costa Pimenta. Por esta razão, que a data se tornou o Dia Nacional do Trabalhador Gráfico, com o objetivo de sempre ser lembrado por todos.

Contudo, além de ser comemorado por toda categoria, o 7 de Fevereiro deixa outro legado importante. A data deve provocar os atuais gráficos e sindicalistas a fazerem um exame de consciência sobre para que serve esta data histórica, reavivada todos os anos. Tal exercício reflexivo visa estimular a categoria a continuar agindo em prol da própria classe com o mesmo vigor e a consciência oriunda da combativa e vitoriosa atitude dos gráficos de 1923.  E por que isto se faz necessário?

– Em primeiro lugar, sem o 7 de Fevereiro, não havia representação da classe. Pois não existiria atualmente nenhum sindicato da categoria no país, com reconhecida legitimidade do poder público, pelos empresários e principalmente pelos trabalhadores, cujos quais são defendidos por estes órgãos sindicais. Assim, consequentemente, todos os sindicatos dos gráficos brasileiros, bem como as federações e a Confederação da categoria são heranças diretas da luta dos gráficos de 1923, bem como todos os direitos conquistados posteriormente ao longo desses 92 anos.

– Outro legado deixado com a luta iniciada em 7 de Fevereiro, que, deve ficar para a permanente reflexão e atitude do trabalhador gráfico e do sindicalista, é que se deve lutar mesmo quando o cenário parece difícil. O combate em 1923 mostrou que se pode mudar a conjuntura adversa, porém, só quando os trabalhadores estão unidos e mobilizados, diante de muita batalha. Afinal, não é à toa que o lema dos gráficos brasileiros, imortalizado pela greve de 1923, é: ‘Se necessário, comeremos terra’.

Haja consciência de classe! Portanto, a categoria não deve se contentar com os direitos que já possuem, quando possuem. É preciso avançar sempre. E um dos primeiros passos passa pela organização da classe através do continuo trabalho de sindicalização dos trabalhadores da base. A sindicalização é uma das ações práticas e efetivas para garantir aos sindicatos a força necessária para enfrentar os empresários. Afinal, foi por isso que os gráficos lutaram em 1923, para poder representar os trabalhadores. É preciso fazer valer a luta dos antigos companheiros.

Todavia, outra importante trincheira de luta é a manutenção dos direitos já conquistados, que são sistematicamente combatidos por empresários. A flexibilização dos direitos é um jargão na boca deles. E os sindicatos precisam continuar reagindo. Um exemplo sintomático são as batalhas travadas todos os anos para fechar as campanhas salariais. E para este ano, com o agravamento na economia mundial e brasileira, os desafios serão maiores. Eis aí a fundamental razão de fortalecer ainda mais os sindicatos com a maior filiação dos gráficos na representação sindical.

Além disso, os gráficos sofrem bastante com a alta taxa de rotatividade dentro do setor no Brasil. Cerca de 30 mil trabalhadores não chegam há um ano no emprego. Outros 30 mil não passam dos dois anos. Apenas 10 mil gráficos chegam aos cinco anos na mesma empresa. Esta situação mostra o perfil conservador do patronato, que, através da rotatividade, busca rebaixar os custos com a folha salarial, ao reconstituir o quadro funcional permanentemente, demitindo e recontratando, porém, com menores salários, direitos e custos. É preciso dar um basta nisso. É preciso agir como agiriam os gráficos de 1923.

Contudo, ao completar 92 anos do 7 de Fevereiro, acentua-se ainda outra luta para os trabalhadores e sindicalistas gráficos. É preciso bater forte em cima do enquadramento dos funcionários das ‘gráficas rápidas’. São empresas onde os funcionários desenvolvem funções gráficos, mas geralmente estão enquadrados em outras categorias profissionais, com destaque no segmento dos comerciários. Só no setor da impressão de dados variados, estima-se que há 40 mil gráficos desamparados. Este ano a pauta do enquadramento será uma das principais bandeiras da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas.

Embora haja muitos desafios, os trabalhadores e sindicalistas gráficos, inspirados pela consciência de classe e atitude do movimento paredista, iniciado em 7 de Fevereiro de 1923, hão de encontrar as respostas para enfrentar as dificuldades contemporâneas. Isso porque o Dia do Gráfico tem o poder de alimentar o ânimo de cada gráfico e de cada órgão de classe da categoria. Por esta razão, o 7 de Fevereiro é indispensável de ser lembrado por todas e todos trabalhadores gráficos brasileiros.

Por tudo isso, a data se recobre do poder inspirador e revolucionário da consciência da classe operária, com o potencial de mostrar aos gráficos que o 7 de Fevereiro é o símbolo permanente da luta em favor do direito do trabalhador. Portanto, o 7 de Fevereiro é o dia para estimular a luta da categoria contra tentativas de diminuição das leis trabalhistas e/ou previdenciárias, mesmo que o ameaçador de direitos seja até mesmo o governo. Os gráficos de 1923 já ensinaram o caminho: lutaram para criar e não perder direitos. Este é o legado dos trabalhadores gráficos.

 

Viva a classe trabalhadora, Viva os Gráficos!!!

Federação dos Trabalhadores da Indústria Gráfica, da Comunicação Gráfica e dos Serviços Gráficos do Estado de São Paulo

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